Por Pedro Paulo Rosa
Foto: Rosendo Martínez
Agora,
meus olhos ardem menos. Depois de cerca de uma hora e meia que consegui chegar
na casa de amigos. Agora, desde que entramos, sentamos e ficamos por um tempo
num barulho ensurdecedor dentro de nós mesmos, o fígado parou de doer, a
garganta voltou a estar úmida.
Mas,
nada está normal. A foto que ilustra essa pequena matéria, uma ínfima
contribuição, um ínfimo suspiro passado por meio de letras e imagens, o que se
busca, creio, é a força que esse pisca-pisca verde do modem virtual acaba nos
dando nesse século XXI. Estamos no inicio de sua segunda década tentando nadar
numa ideia de progresso, de crescimento e de normalização e uniformização da
moral brasileira que, há muito, não via. A sensação de ineditismo, a sensação
de singularidade, de estar num momento VIVO da história brasileira é quase
involuntária de se sentir. Ainda que me xinguem de leigo, infantil ou outros
elogios. No entanto, é necessário que a gente repense verdadeiramente os “valores”
que incentivam a constituição da identidade que pensamos ter, o senso de
liberdade e de felicidade que achamos ter. A cidadania (ou, seria “estadania”?)
que tanto dissemos ter possui quais muros? Limites?
O
corpo todo é incerteza, é mescla de saúde e doença; de realidade e de fantasia.
Uma caveira que sangra e sorri, buscando uma maneira de sentir-se livre. Os
dentes dela fazem a forma da palavra que traz o nome desse país. Temos tantas
auto-legendas (“o povo brasileiro é festeiro, beijoqueiro, barraqueiro,
baderneiro, babaca, baloeiro...um povo misturado”) Onde está o corpo? Na incerteza,
no medo, na mistura, no esvaziado.
Agora, meus olhos ardem mais.
O que traz essa foto? Uma cidade. Tentando ser. Mem de Sá, rua da tranquilidade, dos turistas, dos cariocas familiares, da boemia ideal. Onde o suor fica calmo com a cerveja gelada. O que é isso? Um assassinato da dignidade dos trabalhadores e estudantes da cidade do Rio de Janeiro. Como estudante, como um ser que nasceu e tenta ser, voltei para o sentimento do drama. Da legião do drama.
A Caveira sorri com o desespero da farda. Recorro à utopia, à poesia para refrescar o meu nariz, alargar o meu fígado e abrir mais os meus olhos.
Alguns versos de Mauro Iasi:
Quando os trabalhadores perderem a
paciência / Não terá governo nem direito sem justiça / Nem juízes, nem doutores
em sapiência / Nem padres, nem excelências / Uma fruta será fruta, sem valor e
sem troca / Sem que o humano se oculte na aparência / A necessidade e o desejo
serão o termo de equivalência / Quando os trabalhadores perderem a paciência /
Quando os trabalhadores perderem a paciência / Depois de dez anos sem uso, por
pira obsolescência / A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá: “declaro
vaga a presidência”!
A
filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!